INFLAÇÃO: POTIGUARES CORTAM CARNE E DERIVADOS DE LEITE, PRIORIZAM MERCADOS DE BAIRRO E PASSAM A PARCELAR COMPRAS DO MÊS
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Milhares de potiguares mudaram hábitos de consumo alimentar nos últimos meses por causa da inflação. Com o aumento de preços, a ida ao supermercado passou a ser um pesadelo, o que força os consumidores a tirarem do carrinho produtos essenciais para a alimentação. O que não deixam de comprar os clientes adquirem em menor quantidade.
Uma das maiores quedas foi no consumo de carne bovina. O empresário Júnior Paiva, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Rio Grande do Norte (Sincovaga-RN), relata que, só no supermercado dele, a compra de carne vermelha despencou 16% em março, na comparação com o mesmo período do ano passado. Para abril, ele comprou menos carne para revender.
Em vários outros itens, ele conta que o consumo caiu um pouco menos, mas ainda acima de 10%. É o caso do gênero de laticínios. Com a inflação, a compra de iogurtes e queijos, especialmente os mais finos, foi bastante reduzida. O leite e seus derivados, fundamentais para a dieta infantil, subiram em média 13,5% nos últimos meses.
“Com a inflação, houve várias mudanças de hábito. A carne subiu muito, então aumentou o consumo de frango e suínos. Iogurte vendia muito e agora deu uma queda. As pessoas estão priorizando proteínas mais baratas, como frango e ovo. Houve uma queda na carne e no peixe”, afirma Júnior Paiva.
Esses itens vêm registrando quedas expressivas nas vendas há mais tempo, mas há outros vilões no bolso do consumidor que passaram a ser menos comprados recentemente, como cenoura e tomate.
A média da inflação oficial do País fechou em 1,62% em março, o maior índice para o mês desde 1994, quando surgiu o Real. Nos últimos 12 meses, a taxa já é de 11,3%, a maior desde 2003. Entre os segmentos, o de alimentos registrou uma das maiores altas, de 2,42% no mês. Em um ano, o grupo “alimentação no domicílio” teve aumento de 13,73% de março de 2021 a março de 2022.
Compra perto de casa
Outra alta expressiva nos últimos meses que afetou o padrão de consumo dos potiguares foi no segmento de combustíveis. Com o reajuste médio da gasolina perto dos 30% nos últimos 12 meses, potiguares estão priorizando a compra perto de casa.
Os chamados supermercados de bairro têm registrado aumento na procura, especialmente por clientes que não têm carro.
O presidente do Sincovaga-RN registra que, um tempo atrás, uma pesquisa encomendada pelo setor indicou que o primeiro fator determinante para a compra em supermercado era o preço. O cliente comprava onde era mais barato.
“Mas agora não. A prioridade é ser perto de casa”, diz Júnior Paiva, que complementa: o cliente calcula se compensa se deslocar 10, 15 quilômetros para comprar num supermercado maior e vê que, muitas vezes, não vale a pena por causa do preço do combustível.
O empresário acrescenta que outro fator tem contribuído para o crescimento das lojas de bairro: a diferença de preço que existia antes entre supermercados de bairro e os “atacadões” hoje praticamente não ocorre mais.
Primeiro, porque supermercados menores se uniram em associações, como Rede Mais e Super Show, o que dá aos integrantes das redes possibilidade de adquirir produtos a preços mais competitivos.
Além disso, grandes supermercados subiram os preços para dar conta de despesas antes inexistentes, como ar condicionado nas lojas e cartão de crédito.
“Antes, os atacadões eram poucos e vendiam num volume muito alto. Eles também não recebiam cartão de crédito nem ar condicionado nas lojas. Agora não. Abriram muitos atacadões e isso dividiu a fatia de mercado. Não vende mais o que vendia numa loja só. Passaram também, por causa da concorrência, a receber cartão de crédito, o que é uma despesa alta”, afirma Júnior Paiva.
Hoje, o preço baixo é o 3º fator considerado pela maioria dos clientes na hora da compra. Antes, vêm a localização e o atendimento.
Parcelamento das compras
O presidente do Sincovaga-RN acrescenta que outro fenômeno veio junto com a inflação: o parcelamento das compras do mês. Júnior Paiva conta que, por causa do desequilíbrio financeiro das famílias resultante dos aumentos de preços, consumidores têm usado o cartão de crédito para uma despesa corrente.
“O parcelamento das compras é um perigo. Quando parcela uma compra, no mês seguinte vai ter que parcelar de novo. Daqui a pouco, o dinheiro fica sendo insuficiente para pagar as parcelas do cartão. Isso faz caírem as vendas também”, finalizou.
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