Estudo publicado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que mulheres lideravam 10,1 milhões dos empreendimentos no Brasil, até o final de 2022. No mundo, a participação feminina chega a 34%. Pouco acima disso, está o Rio Grande do Norte, com uma marca de 35% dos negócios comandados pelo público feminino. Pensando neste público, a Fecomércio RN lançou nesta sexta-feira (3) a Câmara Mulher Empreendedora (CME) para incluir ações de fomento ao empreendedorismo feminino no Estado.
A pesquisa mostra que o empreendedorismo feminino no Brasil tem apresentado sinais de recuperação no ultimo trimestre de 2021, depois de sofrer uma queda nos primeiros meses da pandemia de covid-19. Já um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que a presença feminina no mercado de trabalho chegará a 64,3% no ano de 2030. O levantamento analisou as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O lançamento da câmara, que visa essa tendência de crescimento, aconteceu no Hotel Escola Barreira Roxa do Senac. A ação, desenvolvida pela Federação do Comércio do Rio Grande do Norte, do projeto Fecomércio Com Elas, visa implementar ações de fomento ao empreendedorismo feminino no RN, como a realização de capacitações, consultorias direcionadas a esse público, além da inserção da mulher em espaços de destaque de grandes negócios.
“É por acreditar na força das mulheres nos negócios que a Fecomércio se dispõe a trabalhar para impulsionar o empreendedorismo feminino”, afirmou o presidente da Fecomércio, Marcelo Queiroz. O projeto será estendido para todo o RN e as demais ações ainda estão sendo planejadas para auxiliar na jornada feminina dentro do empreendedorismo.
Ele destaca ainda que as ações de fomento visam fazer “girar” a economia do Estado através de negócios movidos pelas mulheres. “Vocês tem o poder de transformar a realidade e protagonizar o desenvolvimento da comunidade”, complementa.
A Câmara Mulher Empreendedora será coordenada por Sâmela Gomes, empreendedora, palestrante e psicóloga de formação, que tem atuação na área social dentro do sistema. “Comércio tem uma representatividade enorme na nossa economia e ela [câmara] chega em um excelente momento”, comentou a coordenadora.
De acordo com uma das palestrantes e empreendedora, Lucineide Gomes, líder de uma rede de supermercados com atuação em três estados, a câmara chega para auxiliar nessa jornada com apoio, expertise e proximidade a esses empreendimentos. “A Câmara da Mulher empreendedora hoje nasce com o intuito de poder nos ouvir mais, nos reunir mais, dar voz e sentido. A gente sabe que precisamos dar passos largos, com a certeza de que chegaremos”, disse.
Ainda de acordo com ela, existe uma tendencia global que pede uma maior participação feminina no empreendedorismo. “Existe uma tendência global em termos da participação da mulher no mercado e ela vem com muitos desafios”, afirmou. Fala também dos desafios enfrentados diariamente. “Os desafios são diários porque ela é mãe, esposa. A mulher traz uma série de atributos e quer fazer parte desse mercado, quer ter voz e igualdade”, finaliza.
Durante o evento, a governadora do Estado, Fátima Bezerra, destacou que mais de 14 mil empreendimentos liderados por mulheres receberam financiamento da Agência de Fomento do Rio Grande do Norte (AGN) nos quatro anos do seu primeiro mandato. Foram R$ 113 milhões investidos. Dos 24.645 empreendedores atendidos com financiamento, mais da metade foi de mulheres jovens.
No RN, 89% atuam por conta própria
De acordo com a coordenadora da Câmara, Sâmela Gomes, a tendência mundial mostra maior participação feminina no mercado. “O mundo dos negócios tem mudado e existem vários estudos, de muitas empresas sérias, como a Mckinsey, que mostra que trilhões de dólares seriam injetados no mundo se a equidade de gênero acelerasse”, completou.
O estudo a que se refere foi publicado pela Mckinsey Global Institute, e diz que a promoção de igualdade de condições de trabalho seria capaz de promover um salto de 30% do Produto Interno Bruno (PIB) brasileiro. Por outro lado, 89% das donas de empresas do RN atuam por conta própria, sendo 46% delas, chefes de domicílios. Grande parte das mulheres empreendedoras potiguares precisam cuidar de casa e dos negócios, o que se conhece hoje como “tripla jornada feminina”.
Além dela, a secretária executiva do município e especialista em Governança ambiental, social e corporativa, Daniela Mafra, mostra a importância de ter mulheres participando de grandes decisões. “Ter a mulher participando na decisão de grandes empresas faz muita diferença porque a mulher tem um impacto global, sistêmico no planeta, nas decisões, nas suas atuações”, disse Daniela Mafra.
“Principalmente por que a gente vive um momento em que a economia aponta um desenho de economia feminina, uma economia mais voltada para as pessoas, para a sustentabilidade e conexão com a natureza”, complementa. Ao longo de sua apresentação, ela falou sobre desafios de empreender frente as obrigações com a casa e os filhos.
Desafios e perspectiva
Dentre os principais deles está a falta de oportunidades iguais entre os gêneros. Encontrar equilíbrio, lidar com ambientes hostis e relações tóxicas também foram pontos abordados. “Pesar desafios e oportunidades, a gente faz isso o tempo todo, enquanto os desafios levam essa balança um pouco mais para baixo”, diz Daniela.
Questionamento da competência baseada na aparência, também faz parte do dia-a-dia de diversas mulheres, segundo Mafra. Mesmo assim, a empreendedora afirma que ser mulher é um diferencial em diversos aspectos dentro de um negócio. Características mencionadas como: atenção plena, colaboração, generosidade, consciência e integralidade foram destaque em seu discurso. “Ser mulher sempre foi um diferencial”, afirmou.
Segundo a coordenadora da Câmara, Sâmela Gomes, a perspectiva é chegar mais perto das mulheres que querem ou já empreendem no RN, com ações que as guiarão no mundo dos negócios, na iniciativa idealizada pela Fecomércio e em busca de inspirar mais empresas a acrescentarem tais ideias e fomentarem a discussão sobre mulheres empreendedoras.
